As atuais pinturas-objetos de
Flávia Fernandes tiveram seu
ponto de partida na tessitura
pictórica de suas telas que nos
anos oitenta transitavam pelos
caminhos da Nova -Figuração.
Por essa época seus temas
constantes eram figuras ou
objetos envoltos pela
luminosidade e exuberância da
Mata Atlântica, cujos
remanescentes ainda são visíveis
na Ilha de Santa Catarina, local
que a artista escolheu para
viver. Algumas formas gráficas
que se recortavam contra o fundo
de cor chapada já insinuavam com
seus ecos Matisseanos os futuros
recortes e o conseqüente
abandono do formato tradicional
do suporte retangular.
Operando por um processo de
depurada seleção dos elementos
plásticos essenciais, a artista
foi aos poucos eliminando
resquícios da representação
figurativa limitadora de seus
anseios de liberdade e espaço.
Estabelecendo dinâmicas
relações espaciais, seus
recortes operam diretamente
sobre o espectador alterando o
espaço ao seu redor propondo um
universo de novas percepções.
Gravadora Flávia incorpora
aos seus trabalhos a riqueza das
texturas, traços e incisões, a
esses elementos unem-se os
contrastes de cores em múltiplas
tonalidades, a diversidade dos
materiais e os ritmos do design
estrutural que define o formato
dos recortes. Sem esconder o
processo de construção da obra e
da manipulação dos diferentes
materiais a artista estrutura um
universo plástico próprio
através de sua intuição
criadora, inteligência e
sensibilidade. Esse universo de
contemplação e de grande
densidade poética abre ao
espectador mais atento às
possibilidades de seu imenso
potencial de transformação.
João Otávio Neves Filho -
Janga
Ilha de Santa Catarina –
Outubro de 2002 |